sexta-feira, abril 29, 2005

Medo

Fitou-me nos olhos… primeiro estranhou a minha presença, o meu ser… olhava-me com aqueles olhos distantes de quem pensa “que é isto?!”
Olhou-me demoradamente… bem fundo, no centro dos meus olhos… e deteve-se, assim, sem dizer palavra…
Tentei desviar o olhar, mas não consegui… ele estava ali, mesmo à minha frente, e não se ia embora… Por muito que eu tentasse fugir… Por muito que eu fingisse que não era nada… ele continuava ali, a observar-me… a olhar-me a Alma.
Tive medo…

O que é que eu faço?

Passada a eternidade de minutos silenciosos começou a falar comigo…
És merda.
Não vales nada.
Quem és tu? Ninguém.
Olha para ti. Põe-te direito, ao menos.
Olha para mim, olha-me nos olhos! Cobarde… nem isso és capaz…
Não tens vergonha?!
Olha para ti. Tenho nojo de te ver.
És merda.
Pensas que és alguma coisa… enfim… coitadinho…
Já fizeste alguma coisa na vida?
Pára de chorar, pareces um bebé.
Faz-te homem.
És merda. MERDA! ouviste?

Comecei a sentir uma forte dor nos dedos da mão direita… assim como o sangue vermelho escuro escorrendo, saindo de mim…
Tinha acabado de partir o vidro da casa de banho…

“I’m nothing… no one… nobody… NO MORE!”

Acabei de receber a minha prenda de anos… quase dois meses depois de os ter feito!
Era uma agenda de 2005 do Dalai Lama. A cada dia que passa uma nova folha surge, com uma nova ideia, com uma outra força de energia de vida… deixando para trás uma outra frase que devemos assimilar e fazer com que se torne parte do nosso Ser.
Abri ao calhas e li uma qualquer…
Depois fui ver a do dia 2 de Março, dia de aniversário!
Finalmente li a do dia de hoje.
Parei um pouco… e apercebi-me da quantidade de folhas que já tinham ficado para trás…
Assustador… … …

O tempo passa tão depressa… e nós vamos perdendo os pequenos “pormenores” da vida… andamos distraídos… com coisas que não interessam…

FOCUS!!! (ler em inglês)


Obrigado por Tudo… you’re my best friend :)
(depois compenso-te com estalinhos ;)

Passado(s)

Encontrei, no meu coração de memórias, uma recordação do meu pai… Uma história que ele me contara tinha eu 7, 8 anos…
Falava de um guarda-redes, o melhor da Europa! Ele era realmente bom, o melhor… mas não jogava…
Um dia foi falar com o seu treinador e disse-lhe:
- Eu fui considerado o melhor guarda-redes da Europa, mas não jogo um único jogo… porquê?!
- Tu és, realmente, o melhor da Europa e eu sinto-me grato por te ter na equipa… mas à tua frente está o melhor guarda-redes do Mundo…!

Não importa o quão extraordinário é o nosso feito, nem o tamanho valor do nosso acto, nem a grandeza do nosso ser… pois há sempre algo mais que nos faz lutar… que nos faz deitar gotas de “sangue, suor e lágrimas”… que nos faz viver…

Acabei de fazer música…
Agarrei na minha Guitarra e pus-me a tocar o que estava a sentir… Foi… Libertador…
Fiz uma música, toquei-a naquele momento… único… mas ninguém a ouviu…ninguém… só eu…

Sei que tal momento nunca mais se repetirá… mesmo assim pego num lápis e tento escrever a música que compus… Nunca ninguém irá tocar o que eu toquei… nem mesmo eu… não se repetirá… Nunca ninguém chegará a ouvir o que eu fiz… nunca será igual… Porque estava só e ninguém ouviu…

Vou guardar a folha escrita a lápis… que guarda a memória de uns minutos únicos que ninguém ouviu… ninguém… só eu… só… eu…

domingo, abril 24, 2005

A B R A Ç O

Ás vezes sinto-me perdido… esmagado dentro de mim próprio…
Fecho os olhos… e sinto Raiva… Angustia… Peso… Sufoco… Apetece-me dobrar (uma vez mais) os ossos da mão com murros na parede… só porque procuro alívio… Como é que se tira isto de cima dos ombros?!
Nesses momentos sou um pequeníssimo grão de pó… solto no universo, sem nada para fazer… sem nada para ser… acabo por deixar de ser quem sou… e tapo a cara de vergonha… e acalmo… porque não vale a pena…
O mundo é tão grande… é imenso… é infinito… e eu não o consigo abraçar… porquê… porquê?
Queria ser capaz de ser bom… de ser melhor… não melhor que os outros, mas melhor que eu próprio… melhor, de dia para dia… queria ser forte e independente… Queria ser o “Deus” ou a “Besta” de Aristóteles para poder viver sozinho… porque um homem quando vive em solidão toma-a como natural e nem se preocupa com isso… pois não sabe que ela existe… não sabe o seu significado…
Um dia peguei ao colo uma criança e olhei-a nos olhos… Senti-me protector… gostava de voltar a ser pequeno para que alguém me protegesse… Mas isso não é possível… nem ser pequeno… nem ser protegido…
É por isso que eu tento abraçar o mundo… para proteger… haverá algo mais que eu possa fazer? E se eu não sou capaz de atingir tal feito… o que será que aqui estou a fazer?
É daqui que vem a Raiva… Angustia… Peso… Sufoco…
Agora fecho os olhos… abraço-me a mim próprio… e respiro fundo… pois no silencio encontrarei a minha própria solidão…

It never rains when you want it to
...You humble Me...

I'm on my knees empty

sexta-feira, abril 22, 2005

The End… (of the Beginnig)

Num momento de lucidez recordei a primeira noite, a noite em que fui salvo por uma Sereia… Foi um beijo? Ou foi respiração boca a boca?
Não sei… mas também pouco interessa…
As Sereias nadam no mar com os Tritões… e eu não pertenço a esse mundo…
Do mar é difícil ver o que se escreve na areia… Resta-me, então, esperar que uma Gaivota sobrevoe o rasto das minhas pegadas na areia… e perceba que a única coisa que eu tenho para dar é Amor…
Tentei dar mas… é preciso Querer receber…

Começou a chover… Quando se chora por dentro o mundo chora connosco… Fechei os olhos, respirei bem fundo, avistei a linha do horizonte como se esse fosse o meu último fôlego nesta vida… e percebi que algures entre as Sereias do Mar e as Gaivotas do céu eu terei o meu espaço… aquela linha imperceptível que ora tocar a dor, ora toca o alívio…

Tu salvaste-me de mim próprio…deste-me ar quando precisei de respirar… deste-me sangue quando precisei de viver… deste-me Amor quando precisei de Sentir…
Por tudo te agradeço… o pouco ar que me deste já foi muito… muito… muito… E guardá-lo-ei na melhor parte do meu coração… a tua parte…
Beijo-te… para Sempre…

quinta-feira, abril 21, 2005

Continuei a atirar garrafas à agua…
A Esperança continua… talvez um dia uma dessas mensagens de areia voltem à terra acompanhadas… na mão da “minha” Sereia…
Continuo triste… os meus olhos já não olham tanto o mar… prendem-se mais no chão de areia… Já não há lágrimas para chorar, já não há forças para ser forte… Então caminho na praia…
Vou-me arrastando pela areia lisa, fina, que começa agora a sentir o peso do meu caminhar… Não sei para onde vou… Vagueio da esquerda para a direita, na diagonal, volto para trás e recomeço a caminhada… Afasto-me do mar… Aproximo-me… Dou um salto grande… já nem sei o que faço… (O que é que eu faço?) Ando aos ziguezagues… ando em círculos infinitamente… Ando a direito… só um pouco… Volto a enlouquecer e perco a noção do que faço… E vou até ao fim da praia…

Depois de nada dito… Fica tudo por dizer…
Enrolei-me em mim próprio no cantinho da praia, como se fosse um ponto final… O ponto final de tudo o que acabara de escrever naquela praia… Se um dia alguém (Quem?) avistar ao longe esse rasto de fumaça apagada poderá ler escrito na praia…

. . . A M O – T E . . .

terça-feira, abril 19, 2005

Message in a Bottle

Atirei uma garrafa ao mar…
Lá dentro pus… um pouco de mim… um texto feito de areia que escrevera numa destas passadas noites frias de vigia…
Como se fosse tudo aquilo que eu tinha (e era mesmo) arrumei, cuidadosamente, o interior da minha relíquia… subi ao rochedo mais alto… invoquei as minhas últimas forças… e lancei aquele navio imenso para o combate marinho!
No auge da minha loucura ajoelhei-me sobre as pedras… e rezei… fui buscar Fé onde ela não existia… dentro de mim próprio… para que essas ondas do mar, essas lágrimas vertidas, esse mar revolto pudesse conduzir-me até ti… para que tu pudesses ler o que eu te gostaria de te dizer…

Sonho contigo…
Quando fecho os olhos imagino o teu rosto…
Sinto o teu toque…
Mesmo quando não estás perto…

Mas depois acordo…
Abro os olhos…
E não te vejo…
E tu não estás lá…

sábado, abril 16, 2005

Até breve…

…A maré estava baixa…
Deixei-me ali ficar, abraçado àquele corpo feito de areia… era tudo o que tinha… Beijei-te inconscientemente mas nem senti o teu cheiro… Voltou aquele sabor a água salgada que antes me preenchia os lábios…
Quis conservar aquela imagem fugaz que tinha de ti… Tentei… mas a maré começou a subir… aos poucos devorava-te aquela apaixonada barbatana… Chamava-te, de novo, para o mar…
Perdido, gritava! Lançava 100 feitiços àquele pirata marítimo que me roubava o mais precioso de todos os tesouros…
Desesperado fiz bancos de areia, mais altas que a maior das muralhas dos castelos, mais fortes que os mais valentes destemidos guerreiros…
Chorei lágrimas de sangue que escorreram velozmente para o mar… ao mesmo tempo que pedia clemência…
- É só um desenho, uma imagem… já levaste a minha Sereia, deixa-me ficar com uma lembrança, uma recordação, uma memória… Por favor… Peço-te… Por favor…
Não era ouvido… então agarrei-me, uma última vez ao teu rosto, aos teus cabelos… beijei-te tão apaixonadamente… que o meu coração encheu-se de esperança… mais uma vez!
Mas não havia mais nada a fazer… foste…

Fiquei ali sozinho, aninhei-me em mim próprio, chorei… e mais uma vez as lágrimas fugiram para o mar…
Foi então que percebi que eram as minhas lágrimas que formavam o mar por onde tu, Sereia, caminhavas… Era a minha dor que te permitia viver… Era do meu coração destroçado que “nascia”, a cada dia que passava, mais uma pérola nesse vasto oceano… mais um pedido… mais uma declaração… mais uma carta… mais… Amor…

quinta-feira, abril 14, 2005

…Mais um capítulo…

Fui caminhando pela praia… distraído pelo barulho das ondas…
Debaixo de água não se ouve som nenhum, tudo é calmo, tudo é sereno… há paz… Todo o tipo de pensamento desaparece… e tudo fica azul…
Á falta de melhor abraço… abraçam-me as ondas do mar… mas eu nem as sinto, pois deixo-me absorver, absolutamente, por aquela força… deixo-me ir… o que é que importa? Nada…
Nem me esforço por uma última golfada de ar fresco… fecho os olhos… e vou…

Acordo de novo naquela praia… As mesmas ondas que, por instantes, me abraçaram devolveram-me à terra… não me deixaram morrer… mais uma vez…
Não levantei o meu corpo do chão… e chorei porque queria que tudo acabasse… mas não, nada acabou… Com as poucas forças que ainda me restavam num dos braços comecei a desenhar-te na areia…

quarta-feira, abril 13, 2005

I don’t wright to remember...
I wright so that I can forget...

terça-feira, abril 12, 2005

Pequena História

Estou completamente perdido…
Não faço ideia onde vim parar, em que parte estou…
Olho à minha volta e não vejo ninguém…
Tenho medo…

Até hoje, quando caminhava na praia, ficavam sempre duas marcas na areia… Eram as minhas pegadas… e as de Deus, que caminhava, sempre, a meu lado…
Mas agora parece que estou a caminhar sozinho…
Então eu olho para o céu à procura Dele… e pergunto…
- Deus, porque é que me abandonaste?
E Ele responde-me:
- Eu não te abandonei! As pegadas que vês na areia não são as tuas… Eu peguei em ti e agora levo-te ao meu colo…


Dedicado ao passado, ao presente e ao futuro... A quem já partiu, a quem chega agora… e aos presentes que me fazem… Acreditar…

sábado, abril 09, 2005

Estás aí?

Passou uma semana…
Ainda aqui estou nesta praia deserta… expectante…
Para passar o tempo vou recordando aqueles momentos doces e carinhosos…
Vou esperando um dia, uma paisagem, um momento, uma miragem, uma onda, a cauda de uma barbatana de sereia… Estou exausto pois não dormi um único minuto… tenho medo de fechar os olhos e perder a oportunidade de a avistar ao longe…
Ás vezes enrolo os meus braços naquela areia fina, tentando abraçar o mundo… esfrego o cabelo no chão e rebolo o corpo por entre aquela fina película de água destemida que invade imperialmente a terra…
Onde estás…

ONDE ESTÁS?! Grito eu…
E ao longe o eco deserto devolve-me as palavras…

Onde estás…

Onde estás…

Onde estás…

sexta-feira, abril 08, 2005

10 Segundos

O que será pior?
Nunca ter experimentado certa coisa… ou saber o que ela é mas depois perde-la?
Desconhecer sempre a essência de algo… ou apreende-la mas depois esquece-la?
Ser cego desde nascença… ou ir perdendo a vista à medida que se envelhece?

Certamente que é mais fácil não saber, nunca, o que é (p.ex.) ter um animal de estimação… pois assim nunca iremos sofrer quando ele morrer…
Muitas vezes preferimos nem sequer saber o que é Amar… porque um dia tudo desaparece e a dor que fica destrói-nos por dentro…
É mais seguro não arriscar… deixar que a vida tome as nossas próprias decisões… pois assim temos uma (falsa) ideia de segurança! “Não conseguiria suportar a perda” – dizemos nós – “então prefiro ficar quietinho!”

Se eu fosse cego… preferia que a cegueira me destruísse progressivamente… Desse modo sempre teria uma pequena ideia do que é a luz… o sol… o brilho dos teus olhos… Em vez de imaginar como seria isso tudo eu recordava…
Ficava triste por me ter sido roubada, a pouco e pouco, a visão… Mas sentir-me ia mais quente, mais forte, mais rico… pois teria a certeza de ter visto como é o mundo… nem que fosse só por 10 minutos… 10 segundos…

terça-feira, abril 05, 2005

Não estás próxima, estás dentro do meu Coração

Não sei quantas horas ficara já adormecido pelo cansaço provocado pelo turbilhão de intensos sentimentos…
Quando acordei senti uma brisa leve a invadir-me a Alma, como que de incenso se tratasse… Era o teu perfume… Sim, o teu… resistira ao tempo, à chuva, à dor, ao mar salgado e ás correntes fortes da tempestade… E no fim de tantas horas ainda permanecia na minha pele…
Será que era um sonho?
Será que imaginei tudo isto?
Não… era simplesmente a certeza de uma noite passada no teu corpo, nos teus braços, no teu cheiro, na tua cama, na tua almofada…

Eu sou teu… tu és minha…
Posted by Hello

menino do Mar

Depois de acordar na praia com aquele doce beijo nos meus lábios, olhei em volta... só vi areia e mar... Não sabia onde estava... Nem se estava só... Mas senti que era amado!
Respirei bem fundo, senti aquele puro e intenso cheiro a maresia, fechei os olhos e caminhei na praia...
Para onde me levaram os meus próprios passos?
De onde chegam as ondas do mar?
Não sei... ninguém sabe...
Passei a língua pelos meus lábios abençoados pelo seu beijo... sentei-me na areia... e olhei, lá longe, o mar... sempre na esperança de, um dia, voltar a ver a minha Sereia...

domingo, abril 03, 2005

03 / 04 / 05

Fazia já muito tempo desde que naufragara…
Já não fazia ideia do tempo, mas tinha a impressão de que a cada dia que passava era mais uma oportunidade perdida para me render e parar de boiar…
Perdi os sentidos… à medida que tudo ia perdendo os sentidos…
Mas, inesperadamente, uma Sereia abraçou-me e levou-me para terra, salvando-me de mim próprio… encheu-me os pulmões de ar, devolveu-me à vida, soube dar aquilo que queria e precisava para continuar…
Ao acordar, já sobre a areia fina de uma praia desconhecida chamada Felicidade, senti um novo sabor… o sabor dos seus lábios… do seu beijo… Foi então que percebi que os meus lábios já não sabiam a água salgada…