Ora aqui está um post grandinho para ninguém ler!
Quando estamos perante um processo crime de homicídio uma pergunta, dirigida ás testemunhas abonatórias, torna-se, sempre, imperativa para o advogado que defende o assistente:
- Então diga-me lá, a vitima era uma pessoa alegre, gostava da vida…
- Sim, Sr. Dr., alegre (feliz e contente) bem disposta, desde o dia que a vi nascer até ao dia em que foi assassinada… gostava da vida…
Gostava da vida…
Será que é assim tão linear a resposta? Será que qualquer pessoa pode dizer tal coisa de uma outra… mesmo que seja pai ou mãe, amigo ou familiar próximo?
Será que alguém pode responder por nós quanto ao facto de nós gostarmos de viver?
Cada pessoa sabe aquilo que sente… e como sente… deve ser por isso que cada ser humano é distinto de todos os outros… Só cada um de nós sabe avaliar o seu próprio estado de espírito…
É tão subjectivo falar do que sentimos… será que alguém compreende?
Uma pessoa fala da solidão… sem saber que quem a ouve é a solidão em pessoa.
Uma outra fala do Amor… e não vê que quem escuta também não sabe o que isso é.
Uma mais fala de amizade… quando não é isso que quer receber…
Só mais uma… pede atenção… a quem não recebe atenção nenhuma…
Muitas vezes dou comigo num certo sítio, a casa de um amigo, um café, um bar, uma discoteca… sinto-me em terra de ninguém… sinto que não estou a fazer nada… sinto que podia ir embora pois ninguém notaria… who cares?
Sei que estou triste, mas sei também que não o devo mostrar… Mas também estou certo que não vou fingir, com sorrisos, que tudo está bem e que a vida é bela…
Terra de ninguém… porque não existem pessoas… porque não pode existir o sentimento…
Vou-me embora, então… mas fico… parece que estou à espera que algo aconteça; parece que se ficar mais um bocadinho possa ser que venha a ter sorte; parece que se eu ficar vou fazer a diferença…
Terra de ninguém… nada acontece, a não ser ver os outros, um a um, ir embora! Este lugar estranho em que me encontro acontece tanta vez… Penso que só tenho a noção que ele existe, exactamente, por estar a fazer o que faço agora: escrever!!! Estou a publicar um texto meu na net, um espaço publico, à espera que alguém leia… à espera que alguém compreenda… à espera que alguém venha ter comigo e faça mudar alguma coisa! Ter esperança num comment que nunca chega… ter esperança num aviso do Messenger de entrada de uma pessoa… ter esperança de uma conversa… uma carta… um beijo… Esperança na despedida…
Tudo era mais fácil quando a expressão “A esperança é a última a morrer” só era associada ao facto de o Sporting ganhar um campeonato! Mas o mundo muda… o meu mundo… muda… a fasquia é posta cada vez mais alta… o Sporting já foi campeão, e voltará a sê-lo…
Terra de ninguém… não escrevo uma carta… não te dou um beijo… não me despeço… Aquilo que queremos perde todo o significado quando não o alcançamos!
Quando eu morrer… assassinado ou não… não digas, de mim, coisas como “ele era alegre (feliz e contente) bem disposto, desde o dia que o vi nascer até ao dia em que foi assassinado… gostava da vida…”
Eu não gosto da vida… a vida é que gosta de mim…
E que vida?
Agora que está na moda falar (outra vez) na eutanásia (e ainda bem!!!) o que é a vida? Dizem que é o bem supremo, que sem ela não há nada… A vida é o primeiro direito do Homem! O art.1º da Constituição da Republica Portuguesa consagra a dignidade ética da pessoa humana…
Eu, que tenho sempre de estar do contra… tenho de dizer:
A vida não é o primeiro direito… é o ultimo!!!
O que é a vida sem Liberdade, sem Autonomia, sem Independência? O que seria de nós se não houvesse rectidão, justiça, honra? Como poderíamos nós viver num mundo sem consciência, atenção, Amor?
A vida é o composto de tudo isto… a quem falta um só destes conceitos não Vive… vegeta… está cerceado de um importante “pormenor” da existência! Será que vale a pena continuar?
Vale… pois quem não goza de todas as características que compõem o conceito de Vida deve lutar para as atingir. Um dia lá chegaremos… Não escolhi nascer… mas a minha Consciência diz-me que posso escolher morrer… porque sou Livre para escolher… porque tenho Independência para tal (ninguém depende de mim, eu não sustento ninguém, ninguém precisa da minha presença) porque sou um ser Autónomo que vive por si mesmo… porque existe em mim um sentido de Justiça que me permite desagrilhoar as amarras que a sociedade insiste em me impor… porque sou um homem Honrado, cujo valor mais alto e digno é Acreditar… Acreditar que também há Rectidão neste mundo e que as pessoas vivem para se Amar umas ás outras…
Serei eu ingénuo? Pois… o suficiente… o bastante… para escrever cartas… para dar beijos… para me despedir… desta Terra de Ninguém…
FIM DE BLOG… é assim… o fim nunca está previsto, simplesmente acontece!
…E eu que era triste
descrente desse mundo
ao encontrar você eu conheci
o que é a Felicidade, meu Amor…
(Corcovado, Tom Jobim)