sexta-feira, julho 29, 2005

Lá fiquei eu, numa qualquer estrada marginal, nessa que fica à beira de qualquer coisa que nem importante é…
Estava agachado dentro de mim próprio quando um ruído vibrante me fez erguer a atenção. Era um camião enorme, pesado e cruel que – ao ver-me a levantar curioso da beira onde estava – insistiu em seguir em frente, na minha direcção…
Como quem estica todo o braço poderosamente musculado atrás, preparando um murro esmagador, também assim, aquele desenfreado turbilhão de sentimentos desagradavelmente esmagadores perfurou-me pelo meio do estômago… fazendo-me ceder perante a evidência do mais forte…
Dobrei, doridamente, os joelhos, caindo sofregamente de cara no chão… aquela mesma terra poeirenta que tinha vindo a ser o meu alimento forçado… O pó misturava-se com sangue, esvaído, que me escorria da boca…
Ali fiquei inerte durante anos… não chegara a morrer, mas também não vivi… Ali fiquei, recolhendo energia para poder erguer um braço sôfrego, pedinte por ajuda…
Ela não vinha… Aquele pó maquiavélico entranhava-se, cada vez mais, dentro de mim… O mesmo pó que, um dia, eu pensei que seria o néctar do meu crescimento com sucesso…
As minhas lágrimas foram levadas pela chuva… o meu ar foi tomado pela angustia… o meu sangue foi lavado pela terra árida… a minha dor, essa, permaneceu…
Derrotado, avistei, ao longe, uma mão… amiga? E, em lágrimas doídas, sem forças, esgotadas… lá lhe fiz um sinal mendigo…
Ao se aproximar, concentrei tudo o que tinha bem no fundo dos meus pulmões e expliquei-lhe quem eu era… disse-lhe tudo numa única palavra… num gemido… num grunhido…
Soltei, definitivamente a garganta rompendo o infinito silêncio… e… GRITEI…