sexta-feira, fevereiro 18, 2005

Entrei na Máquina do Tempo…
Quis ir ao futuro para ver como será a minha vida! Todos nós teríamos o mesmo impulso… Eu, comum mortal, também o tive, mas quando saltei o tempo nada vi… procurei por mim e não me encontrei… Perguntei a várias pessoas, interpelei quem se cruzava comigo na rua, abordei milhares e multidões… ONDE É QUE EU ESTOU?!
Ninguém sabia…
O «eu» que restava começava a ficar perdido… esse «eu» começava a não saber quem ele era, onde estava, o que queria, para onde ia, o que fazia…
Perguntei-me… será que morri assim tão cedo? Será que fizera alguma coisa de útil? Para mim… para o mundo… para alguém… Procurei mas não encontrei nada… até que encontrei um velho matreiro, muito sabedor das coisas. Ele disse-me:
- Tu apagaste-te! Não te lembras? Passaste os dias inteiros a negar-te a ti próprio, a fugir daquilo que eras, a desejar ser outra pessoa. Agora desapareceste… não há nada de ti no mundo… zero. Entra na Máquina do Tempo, volta ao teu passado e vê as coisas que apagaste.
Voltei atrás e vi-me a matar uma pessoa… comecei a recordar… eu era um assassino! Violei, estropiei e matei um ser humano. Aproximei-me para ver a cara do meu inimigo e, com os meus olhos de espanto, observei a vitima que era eu…
Entrei naquela máquina, outra vez, recuei ainda mais no tempo… para voltar a sentir a morte daquele Amor que senti um dia… esse momento alterou por completo o rumo da minha vida… fez-me andar à deriva… fez-me perder a noção da realidade… Chorei com o meu «eu» passado, abracei-me a mim próprio, consolei-me… e voltei a recuar no tempo…
Decidi separar os meus pais para que o mundo não conhecesse tamanho fardo humano. Consegui! Desde o seu início estavam já separados… desde o início…
Tive de dar um salto maior no tempo… recuei cem anos… as coisas eram tão diferentes! Que mundo é este? Senti um arrepio tão grande na espinha que todo o meu corpo estremecera. Olhei à volta… nada me era familiar… senti-me só… senti-me frio… indiferente a tudo… não era ali o meu lugar… Foi então que um pequeno rapazinho se aproximou de mim, puxou-me pelas calças e fez-me ajoelhar a seu lado. Queria sussurrar-me alguma coisa ao ouvido. Inclinei-me atenciosamente para o perceber… ele disse:

- À medida que vais crescendo vais fazendo cada vez mais coisas que sempre disseste que não farias nunca… e aquilo que sempre prometeste a ti próprio é aquilo que fica por cumprir!
Deu-me um beijo repentino na face e correu a brincar com outros meninos…
Confuso, decidi regressar ao meu tempo… mas perdi-me… qual é o meu tempo? Qual é o meu espaço? Quem sou eu?! Já não sei onde está o presente… não distingo o passado do presente! Não sei nada… nada…
Foi então que encontrei uma terceira pessoa que me disse:
- Tu não estás perdido. Nunca te perdeste. Nunca te irás perder. Todos os dias falas contigo próprio, quer seja o velho matreiro que ainda está adormecido dentro de ti… quer seja com o pequeno rapazinho que um dia corria para ir brincar com os outros meninos… Nunca estás só! Estás sempre contigo… não te negues; acredita em ti; olha-te ao espelho e verás a tua Alma.
Levantei a cabeça e reconheci o meu reflexo no lago cristalino iluminado pelo mais intenso pôr-do-sol que jamais existira…