quarta-feira, outubro 05, 2005

Mil vezes

Há muito tempo que não conseguia dormir…
Insónia…
Ficava desperto, na fronteira entre o dormitar e o filosofar… era então que pensava… sentia… Tudo seria tão mais fácil se eu fosse “perfeito”, se tivesse uma “agradável aparência” (N.B: “agradável = aquele que agrada, o que convence pela simpatia, postura, bons modos; “aparência” = aquele que aparenta, o que mostra o que pode não ter escondendo a sua essência).
Era mais fácil ser aceite, ter amigos, namoradas… ser alguém…
Mil vezes desejei ser o que não sou, mil vezes me arrependi.
Continuava sem conseguir dormir…
Então começava a pensar no exacto oposto… no pouco que sou… no quão distante estou desse Ser “de bom grado e aparente”…
Imaginava como seria ter uma marca no rosto, um sinal inevitável da tragédia que era a minha vida, a mutilação de uma desgraça… Talvez isso servisse para que o mundo visse o quão frágil, débil, distorcido, angustiado, contorcido, destroçado eu sou…
As horas iam passando… mil horas… infinitas… e eu lá continuava mergulhado nessa insónia mil vezes repetida ao expoente da loucura…
De repente lembrava-me que já possuía uma marca, um sinal… Esse meu sobrolho rasgado era a prova de que, afinal, eu tinha “Como” mostrar exteriormente a minha forma de ser interior… esmagado dentro de mim…
Fechei os olhos e, tentando sacudir a impressão que essa ideia me provocava nessa cicatriz “aquilizante”, esfreguei - com mil forças e determinação - o olho preguiçoso para o soninho que se avizinhava.
Derrotado pela inércia… pela ideia da evidencia… deslizei para o conforto suave da minha almofada… rolei para um lado… o lado que me dizia que o mundo acabara de acordar… que a Vida começava ali… Foi então que, por fim, adormeci… mil vezes… embalado pelo carinho de uma mão que me sopra ao ouvido… Tudo estará bem quando acordares…

1 Comments:

At domingo, outubro 09, 2005 2:33:00 da tarde, Anonymous Anónimo said...

e quem te contou q tem q ser assim tao dificil?e ja reparaste no rosto dos outros-ja viste q todos nos temos uma marca?a fragilidade n faz parte de todos nos?

 

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